Comunidade de Prática (CoP) não é um fenômeno recente, mas é pouco utilizada, apesar dos benefícios que proporciona: o estímulo à comunicação em grupos de profissionais para o compartilhamento de informações e experiências pode potencializar a atuação profissional em qualquer área, inclusive na educação.
Por proporcionarem atualização pontual, determinada por um objetivo comum dos integrantes, e face às mudanças constantes e velozes ocorridas nas demandas de trabalho provocadas pelo avanço da tecnologia, as Comunidades de Prática Virtuais (CoPVs), montadas em plataformas digitais online, atraem cada vez mais a atenção de grandes organizações ao redor do mundo, empresas e escolas. Tais corporações entendem ser esse formato de aprendizagem coletiva uma excelente oportunidade para impulsionar o desempenho de seus colaboradores.
E na educação, como a Comunidade de Prática Virtual se aplicaria?
Bem, a comunicação entre professores (e entre coordenadores e gestores) em Comunidade de Prática Virtual propicia upgrade na qualificação profissional, facilita a formação continuada, bem como a solução de problemas comuns, auxilia no desenvolvimento de currículos e estimula o uso da tecnologia com foco na educação, gerando benefícios não apenas para os membros do grupo, mas também para os estudantes, escola e comunidade em geral.
Quer um exemplo prático? Usar a CoPV para entender, detalhar e aplicar adequadamente a BNCC – Base Nacional Comum Curricular; usar a CoPV para desenvolver protocolos a fim de equacionar problemas relacionados a bulliyng; ou ainda lançar mão da CoPV para melhorar o currículo da escola; unir professores de várias disciplinas em torno de um projeto integrado, e por aí vai… Cada estabelecimento de ensino tem suas necessidades particulares e específicas, que podem ser abraçadas pelas Comunidades de Prática Virtuais.
Segundo levantamento da TIC Educação de 2016, embora 100% dos professores utilizem a Internet em seu cotidiano, e 94% concordem com possíveis impactos positivos dastecnologias da informação e comunicação (TIC) em práticas pedagógicas, mais da metade deles (57%) garantem que não há incentivo para inclusão do uso da Internet no projeto político e pedagógico das escolas.
Para Goulart (2014), o desafio reside na necessidade de reestruturação do sistema pedagógico e de rede de ensino, principalmente nas escolas públicas, como dos conteúdos e currículos da formação e atualização de docentes.
Curiosa com o impacto que as Comunidades de Prática provocam no aperfeiçoamento rápido de profissionais, desenvolvi dissertação e produto de mestrado profissional, sob orientação do Prof. Dr. Elias E. Goulart, a partir desse tema, porém, com foco na educação.
Investiguei as práticas de comunicação utilizadas pelos professores que atuam nas três escolas de ensino médio parceiras do Grupo de Pesquisa ETICO (certificado pelo CNPq), do qual faço parte, a saber, EME Professora Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul; EE Professora Brisabella de Almeida Nobre, em São Paulo; e Colégio FSA – Fundação Santo André, em Santo André, para entender se há e quais são as formas de relacionamentos online entre os docentes para troca profissional.
Por meio de pesquisa realizada com aplicação presencial de questionário com 50 perguntas estruturadas e por posterior entrevista via email e via whatsApp, junto aos docentes das escolas citadas, investiguei a presença de Comunidades de Prática Virtuais, formais ou informais, a fim de analisar os processos comunicacionais envolvidos, e, encontrando-as, entender suas formas de utilização. Também busquei saber como é a utilização de mídias e redes sociais ou outras formas de relacionamento online pelos docentes das escolas pesquisadas para fins de interações profissionais.
Resultados
Por meio dos resultados obtidos com a análise dos dados, detectei que há comunicação estabelecida entre os docentes pesquisados, tanto presencialmente – especialmente durante as reuniões de HTPC nas escolas –, como online, por meio de aplicativos e redes sociais virtuais; ou ainda, via plataformas específicas, como a Google Classroom. Constatei, ainda, que todos os professores estão presentes nas redes sociais e mídias digitais; e que a expressiva maioria – 90,9% – acredita ser possível utilizar as redes sociais virtuais para ensinar e educar.
Essas e inúmeras outras informações obtidas por meio dos resultados da minha pesquisa favorecem o desenvolvimento de Comunidades de Prática Virtuais, uma vez que é preciso que os membros das CoPVs tenham não apenas familiaridade com a rede, mas também conhecimento mínimo das possibilidades que o acesso à Internet pode proporcionar.
Em defesa da ampliação do conhecimento dos docentes por meio das CoPVs, na conclusão do trabalho de Mestrado Profissional em Inovação na Comunicação de Interesse Público, realizado na USCS – Universidade Municipal de São Caetano, finalizado em junho de 2018, destaco que boa parte dos professores se mostra favorável à atualização profissional por meio de Comunidades de Prática Virtual, e que 63,5% admitiram que compartilhar conhecimentos por meio de uma CoP pode ser bom para a ampliação dos horizontes profissionais e melhoria da atuação deles na produção de conteúdo e da qualidade das aulas.
Como a maioria dos professores, coordenadores e gestores de instituições de ensino não sabe quais características e procedimentos transforma uma simples rede de compartilhamento em uma CoPV, desenvolvi o “Curso de Criação, Desenvolvimento e Operação de Comunidades de Prática Virtuais”, que pode ser ministrado dentro das escolas ou a grupos de docentes interessados a qualquer tempo.
O fato é que, mais do que capacitar docentes, as Comunidades de Prática Virtuais podem tornar-se uma prática comum entre os profissionais da educação. E o melhor é que, caso as CoPVs venham a se tornar de conhecimento de todos, elas podem se transformar em ferramenta para a formação continuada. As Comunidades de Prática Virtuais podem driblar até mesmo a falta de tempo alegada pelos professores, devido ao grande volume de trabalho e de horas/aula, para a ausência de atualização profissional, por não dependerem de locais fixos para as reuniões ou mesmo horários determinados.
Em um mundo no qual os novos saberes e as novas tecnologias se sobrepõem todos os dias, as CoPVs são de extrema valia!
Contato para mais informações sobre o “Curso de Criação, Desenvolvimento e Operação de Comunidades de Prática Virtuais” ou sobre a pesquisa:
Email: sandhra@educarparasergrande.com.br
Por: Sandhra Cabral – Jornalista, Docente, Mestre em Inovação na Comunicação de Interesse Público pela USCS – Universidade Municipal de São Caetano, Pesquisadora do Grupo Ético – Estudos das Tecnologias da Informação e Comunicação (certificado pelo CNPq), e Editora do site Educar para Ser Grande.