Levando-se em consideração que a educação midiática reúne habilidades que permitem acessar, pesquisar, analisar, criar, compartilhar e participar do ambiente virtual de forma crítica, hoje detalharei quais são, afinal, as principais habilidades que podem ser trabalhadas pelos docentes em sala de aula, por meio dela.
É bom sempre destacar que o campo de atuação jornalístico-midiático faz parte da BNCC da educação básica e prioriza que os estudantes sejam preparados a ler criticamente para que tenham atuação ativa na sociedade enquanto cidadãos conscientes e plenos.
Isso sem levar em conta, competências do documento que também são abarcados pela educação midiática.
Como quero abordar as habilidades, vamos a algumas delas a seguir:
Leitura crítica
Ler criticamente exige domínio de, primeiramente interpretação de textos, e depois de pesquisa, busca e curadoria de informações, capacidade de avaliar com discernimento e isenção a qualidade e a intenção da informação encontrada, compreensão do papel da mídia e o direito à comunicação e refletir sobre o que não foi dito.
Para desenvolver essa habilidade é preciso que os estudantes adquiram o poder de realizar a análise crítica da mídia em qualquer formato, por meio da leitura reflexiva, entendendo algumas questões prioritárias para que essa análise seja feita de forma adequada. Entre essas questões estão o papel da mídia na sociedade, o direito à comunicação e a garantia da liberdade de expressão; ponto de vista, opinião, partidarismo e objetividade; produção e circulação de informações na mídia e em outros ambientes; poluição informacional, causas e consequências; a comunicação das marcas por meio de canais próprios, parcerias, conteúdo patrocinado e influenciadores; a fusão de papéis de autor e consumidor de informação e suas consequências, o papel das mídias sociais digitais, e por aí vai.
Letramento da Informação
O estudante deve apropriar-se, por meio do processo de ensino e de aprendizagem, de técnicas de busca e pesquisa, curadoria e produção de conhecimento, com habilidades para ter a capacidade de utilizar termos e operadores de busca; avaliar criticamente o propósito e a qualidade da informação encontrada; utilizar mecanismos de checagem da informação; utilizar a informação respeitando as regras de propriedade intelectual, e saber como os algoritmos agem durante o processo de busca.
Escrever com responsabilidade
É necessário que os estudantes entendam que a possibilidade de poder produzir, compartilhar ou comentar conteúdos nas mídias sociais digitais exige que se expressarem de forma clara, assertiva, autônoma e responsável.
Por isso, precisam desenvolver a autoexpressão e aprender a usar adequadamente dados, textos, áudio, imagens, fotos, infográficos; devem entender que cada mídia tem sua linguagem própria, adaptando o conteúdo a cada formato de mídia; precisam justificar suas escolhas criativas e estéticas com coerência; analisar as vantagens e as desvantagens de cada ferramenta de acordo com o propósito; além de colocarem em prática a análise e a autorreflexão enquanto autores.
Letramento e fluência digital
Diz respeito à habilidade de os alunos acessarem vasta gama de ferramentas digitais e terem flexibilidade para localizá-las e, sobretudo, e adaptar-se a elas, dominando um repertório básico de recursos para a produção e o compartilhamento de conhecimento.
Participação ativa
Por meio da leitura e a escrita os estudantes devem participar de maneira crítica e responsável da sociedade, promover a cultura da informação verdadeira e construtiva, combatendo a desinformação e os discursos de ódio, intolerância e preconceituosos que permeiam o cotidiano de todos.
Para isso, é fundamental o desenvolvimento de habilidades criativas e de resolução de problemas, com a utilização dos recursos de mídia para construir narrativas dedicadas a alguma causa ou serviço, como pede a cidadania digital.
Trabalhar a Educação Midiática no dia a dia é mais simples do que parece…
Para começar, basta estimular o estudante a sempre questionar ou mesmo duvidar da informação, ao invés de consumi-la como verdade absoluta.
Para esse início pode-se estimular a leitura reflexiva e crítica da seguinte forma – apenas um exemplo:
Indicar um conteúdo aos estudantes e convidá-los a questionar o texto, fornecendo alguns direcionamentos, que podem ser:
Analisar o conteúdo: se já ouviu falar sobre o tema abordado, se parece duvidoso, se está contextualizado, e nunca compartilhar se não tiver certeza do que está escrito alí;
Investigar a fonte: de onde vem o texto, se a fonte é confiável, quem é o autor, se há a data de publicação, verificar os comentários sobre o assunto, buscar mais informações sobre a fonte em sites confiáveis, etc.;
Buscar informações detalhadas sobre o assunto do conteúdo: sempre pesquisar em outras fontes sobre o tema e comparar os dados;
Descobrir o contexto original do assunto tratado: saber em que contexto o fato ocorreu evita que as mensagens sejam manipuladas. Isso significa que é preciso ir direto à fonte que produziu a notícia para ter certeza de que está correta.
A partir de qualquer texto, o professor sempre pode aguçar a leitura reflexiva e a análise crítica, realizando perguntas como:
Os fatos se sustentam? Buscar evidências. Quem criou o conteúdo? É certo que se pode confiar nesta fonte? Pesquisar a fonte. Qual é a história toda, na íntegra? Identificar o contexto. Para quem o conteúdo foi criado e direcionado? Descobrir o público-alvo da informação. Por que foi produzido? Analisar a intenção, objetivo real da mensagem. Como a informação é apresentada ao público-alvo? Que impacto que ela causa nele?
Ao responderem a essas questões, provavelmente os alunos terão dados para avaliarem se a informação está correta, se é confiável, qual o objetivo da mensagem e poderão formar suas opiniões a respeito do tema.
Continue acompanhando nossas postagens. A próxima será sobre outras formas de levar a educação midiática aos estudantes, independentemente da disciplina.
Por Sandhra Cabral
Mestre em Inovação na Comunicação de Interesse Público pela USCS/USP, com área de pesquisa voltada ao uso da comunicação em Comunidades de Prática Virtuais para a atualização e formação continuada de professores e lideranças educacionais; educomunicadora, jornalista graduada pela UMESP – Universidade Metodista do Estado de São Paulo; docente universitária na USCS – Universidade Municipal de São Caetano do Sul; CEO do Educar para Ser Grande, Consultora em Inovação na Educação e em Educomunicação. Jornalista premiada, com mais de 25 anos de experiência em hard news.
Instagram: @educarparasergrande