Estamos novamente com o número de casos de Covid-19 em alta em várias regiões brasileiras, a exemplo do que vemos em outros países. É fato que, enquanto não estivermos todos vacinados, a pandemia será uma realidade queiramos ou não.
Nesse novo ano, ainda há muita dúvida sobre o retorno às aulas presenciais, embora vários governos municipais já o tenham decretado de forma parcial.
O esforço gira em torno da manutenção do aprendizado dos estudantes, mesmo em contextos diferentes como o remoto ou híbrido, e é preciso ter a clareza que tal fato aponta para a necessidade de nova visão sobre o trabalho do professor.
A pandemia que trancafiou todos em casa, e obrigou a todos redefinirem seu formato de trabalho, também alterou totalmente o ensino e acentuou o que temos de melhor e evidenciou tanto os problemas como os desafios a serem enfrentados. No caso da educação remota, a pandemia escancarou as dificuldades que já existiam em relação à adoção e apropriação das tecnologias e trouxe a necessidade de atualizar práticas e metodologias de ensino, fazendo ressurgir o debate sobre a valorização do professor.
E essa questão vai muito além da urgência de essa categoria ter um salário condizente com as demandas dela exigidas, mas diz respeito às condições adequadas de trabalho, plano de carreira e, sobretudo, necessidade constante de atualização profissional.
Com os filhos em casa, os pais reconheceram o tamanho do esforço e complexidade do trabalho dos educadores.
As aulas em ambiente virtual exigem mais dos docentes do que no ensino presencial. Os educadores precisaram se reinventar de forma muito rápida e, além de buscassem aplicativos, plataformas e outras ferramentas para manter os alunos engajados, precisaram aprender muito sobre elas. Esse esforço em adaptação à nova realidade para boa parte dos docentes do Brasil, aliado ao fato de a escola ter entrado na casa dos estudantes (pelo menos daqueles que têm acesso à internet e possuem dispositivos para acessar as aulas), acabou fazendo com que os familiares dos alunos compreendessem a amplitude do ofício de professor e do desafio que enfrenta para prender a atenção e estimular a participação de crianças e jovens durante a aprendizagem remota.
Essa percepção recém descoberta é bom sinal, mas não mudou o cenário estrutural de desvalorização do docente, já que em nosso País, ainda existe a falsa impressão de que a docência é um “dom”. Não! Ela é uma profissão que exige estudo, demanda muito empenho e formação continuada.
O professor precisa ter tempo para pesquisar, produzir aulas, buscar novidades e para dispor desse tempo, necessita de bom salário para se reciclar. Neste cenário, que seria o ideal, pode oferecer aos alunos cada vez mais melhores aulas, produzir melhor engajamento (seja no ambiente virtual, presencial ou no ensino híbrido) e despertar nas crianças e jovens cada vez mais interesse pelo conhecimento. É um círculo que pode ser altamente ser virtuoso!
A valorização do professor, além do reconhecimento de estudantes e famílias, pede políticas públicas desenvolvidas de maneira integrada, que inclua formação inicial e continuada, plano de carreira, condições adequadas de trabalho e suporte dos gestores.
Além disso, a formação tanto inicial como a continuada exige, além do que normalmente se pensa – ampliar o conhecimento da área de conhecimento em que o docente atua e melhorar as práticas em sala de aula, incluindo metodologias ativas e se apropriando de novas tecnologias -, também preparar o profissional para os desafios do dia a dia da profissão. As competências nas áreas da comunicação e socioemocionais hoje são indispensáveis a essa categoria e vemos muito pouco ou quase nada delas inseridas na formação docente.
Se a pandemia trouxe uma revolução forçada ao nosso sistema de ensino, que luta para se adequar, também expôs mudanças que precisam ser feitas e que não dependem de pandemias para ocorrerem: só dependem de bom senso.