Esquecida durante a reforma educacional, a educação financeira é deixada de lado em quase todos os âmbitos, mas seus reflexos são visíveis na sociedade. Segundo a pesquisa mensal da Confederação Nacional do Comércio de novembro de 2017, 62.2% das famílias no Brasil estão endividadas, sendo tanto por atraso, quanto inadimplência. Número esse que beira os 60 milhões de pessoas. O reflexo está na base: apenas 35% dos brasileiros sabem informações básicas de economia.
O Perfil dos Endividados
Segundo a pesquisa anual Devedores do Brasil de 2016, o cartão de crédito lidera a origem das dívidas com 58,2%, seguido por prestadores de serviços (luz, TV, água e etc.) com quase 40%. Pouco mais de 34% das inadimplentes possuem 4 ou mais dívidas. Perda de renda e descontrole são os principais motivos para o não pagamento da conta.
46% dos endividados ouvidos pelos SPC em 2013 dizem que as dívidas poderiam ter sido evitadas e 32% dizem que planejamento resolveria o problema.
Nas Escolas Brasileiras
O MEC bem que tentou, em 2016 foi sugerido a inclusão da temática na Base Curricular Comum, sem êxito. Mesmo assim, projetos pilotos do ministério foram disponibilizados através do site Vida & Dinheiro que possuí dicas, planos de aulas para o ensino fundamental e médio e artigos sobre educação financeira nas escolas.
As ONGs acabam tendo um papel importante na abordagem do tema. O próprio projeto do Ministério da Educação foi produzido inicialmente em 2014 com a Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil).
O projeto foi conduzido em 448 escolas em todo o país e envolveu 27 mil alunos e 1,5 mil professores, que tiveram 16 horas de treinamento. Depois das aulas, uma pesquisa foi feita com mais 550 escolas para identificar as diferenças entre os alunos que receberam aulas de educação financeira e os que não receberam.
DSOP Educação Financeira é outro trabalho que atinge dezenas de escolas em todo o país. Segundo a instituição “os programas estão embasados na Metodologia DSOP (Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar)”
O projeto de lei 4.915 de 2016 que pede a alteração na base de diretrizes educacionais para a adição da educação financeira está pendente para avaliação das comissões do tema. O PL pretende alterar o artigo 26 da Lei nº 9.394.
A autora cita que as ações monetárias são cotidianas e que necessitam “prudência” e acrescenta que o aprendizado da fase “estudantil, possa ter acesso a noções de educação financeira e como sucedem as relações de consumo”.
Na justificativa, o projeto de lei é enfático ao dizer “crianças e jovens que obtêm conhecimentos em consumo e educação financeira na escola tendem a pensar mais no futuro e aumentam a intenção de poupar”.
No Exterior
Na Inglaterra a educação sobre finanças é obrigatória nas escolas, mesmo assim 52% dos alunos disseram não ter recebido aulas de finanças pessoais. A mesma pesquisa encabeçada pela London Institute of Banking and Finance e divulgada pelo periódico britânico The Telegraph mostrou que para os jovens, sua principal fonte de informação sobre assuntos econômicos vem dos pais e responsáveis, cerca de 80% das respostas.
O mesmo país enfrenta outros problemas: pouco mais de 400 mil crianças com menos de 11 anos já apostam na internet e jovens adultos na faculdade que se endividam com cartão de crédito para cobrir custos da faculdade.
Nos Estados Unidos a situação também não é muito diferente. Um estudo de 2012 de quase 30 mil adolescentes de 18 países descobriu que mais de 1 em cada 6 estudantes nos EUA não conseguiu alcançar o nível básico de proficiência em alfabetização financeira, de acordo com a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, com sede em Paris.
O resultado é que os EUA ocupam o 14º lugar – atrás de Israel, Canadá, Austrália, Cingapura e grande parte da Europa – na alfabetização financeira, segundo Standard & Poor’s e Gallup de 2014. As dívidas com cartão de crédito atingem um terço das pessoas com um montante médio de US$ 15 mil. No caso dos estudantes, as dívidas começam com os empréstimos estudantis, cerca de US$ 29 mil.
Apenas 17 estados atualmente exigem que os alunos cursem aulas de finanças pessoais, de acordo com o Conselho de Educação Econômica.