Dentre os rankings de qualidade educacional, a Finlândia se destaca estando sempre no topo. Há cerca de quarenta anos, o país nórdico fez uma grande reforma em seu modelo de ensino, transformando-se em potência educacional.
Como eles fizeram isso? Acredite: adotando um modelo nada ortodoxo e contrário ao sistema de educação centralizado do ocidente.
Transformação
O processo de rejuvenescimento da educação finlandesa começou junto com a recuperação econômica do país. Os próprios educadores locais só tiveram dimensão do sistema quando o PISA – um teste padrão de medição de qualidade da educação em mais de cinquenta países –, no ano 2000 mostrou que de cinquenta e sete países, a Finlândia estava em primeiro lugar em jovens leitores. Já em 2003, avançou para a liderança em matemática. Em 2006, foi a vez de ciências ganhar a medalha de ouro.
No relatório divulgado em 2009, o país ficou em segundo lugar em ciências, sexto em matemática e terceiro em leitura. No relatório de 2015, o país europeu apresentou queda em comparação aos anos anteriores. Ciências foi o mais grave, uma redução de 11 pontos. O regresso deixou a Finlândia em quinto lugar.
O Modelo
Todas as escolas são financiadas pelo governo. Não há testes padronizados – com exceção no final do ensino médio -, muito menos rankings, competições ou comparativos entre escolas, alunos e professores.
As agências governamentais têm como autoridades executantes educadores de carreira, ou seja, pessoas que entendem a educação. NADA de políticos, empresários ou gente amiga de quem está no poder, mas que não é da área .
No país nórdico, todas as escolas possuem o mesmo objetivo de ensino, que é o desenvolvimento dos estudantes para que aprendam a trabalhar em equipe e buscar sempre novos conhecimentos. Outro detalhe muito importante: a formação de professores leva em consideração o fato de que os docentes são moderadores de informações e o foco da educação deve ser o protagonismo dos estudantes. Eles aprendem nas universidades como funciona o sistema educacional no país, logo, tanto em instituições urbanas ou rurais, alunos saem da escola com níveis próximos de conhecimento, fator que explica o porquê da Finlândia ter uma das menores taxas de diferença entre estudantes, segundo pesquisa da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2015.
Crianças
Crianças com até 7 anos de idade não são obrigados a entrar na escola, e quando começam a cursar o equivalente ao “primário”, não há distinção de classes. Independente do seu desempenho são ensinados no mesmo ambiente.
A Finlândia também inova ao raramente pedir aos seus estudantes que façam lição de casa – fato que muda apenas na adolescência.
Professores
Ao contrário do modelo ocidental, os docentes finlandeses são incentivados a pensar em seus currículos e tarefas desenvolvidas com os alunos, sendo muito bem remunerados para isso. Na Finlândia, essa profissão é altamente valorizada, o que por si só já muda toda a perspectiva da qualidade da educação.
Outra grande diferença fica pela relação aluno – professor. O mesmo docente será responsável pela turma pelos próximos seis anos (em média), e todo o conteúdo bem como os trabalhos são desenvolvidos em equipe.
O papel do governo
O estado tem um papel fundamental no sistema educacional. A Finlândia oferece licença maternidade durante três anos e cuidados diurnos subsidiados aos pais com crianças de cinco anos, em que segundo o governo está o principal período de socialização.
Outro incentivo dado pelo estado é a “bolsa-filho”, de cerca de 150 euros mensais para cada criança até a mesma completar dezessete anos. 97% dos pequenos com até seis anos de idade estão matriculadas em pré-escolas públicas. As instituições de ensino oferecem boa alimentação , assistência média, conselheiro e até serviço de táxi, caso os responsáveis optem por esse serviço, tudo gratuito.
Matriz Curricular
No primeiro ano escolar os alunos já cursam as classes obrigatórias de finlandês, matemática e ciências. Os mesmos ainda têm, religião, música, artes, artesanato têxtil e esportes.
Inglês começa no terceiro ano, sueco no quarto. A partir do quinto ano são incluídos biologia, geografia, história, física e química.
No sexto ano, todos os alunos são convidados a fazer um exame distrital, cabendo ao professor a decisão final da sala participar ou não. A maioria opta por participar, mas apenas por curiosidade, isso porque os resultados não são revelados.
História
As escolas finlandesas nem sempre foram de alto padrão. Até o final dos anos 60, o país ainda tentava sair do lamaçal causado pela influência soviética. Grande parte das crianças abandonaram as escolas públicas, optando por escolas privadas ou populares, essa última tinha baixo nível de qualidade.
A paisagem mudou quando a Finlândia começou a tentar revender seu passado sangrento em um futuro promissor. Durante centenas de anos, essa população havia sido encurralada entre dois poderes rivais: a monarquia sueca à oeste e o Czar russo à leste. Nem escandinavo nem o Báltico, os finlandeses estavam orgulhosos de suas raízes nórdicas e uma língua única que eles poderiam amar. Em 1809, a Finlândia foi cedida à Rússia pelos suecos, que governaram o seu povo por cerca de 600 anos.
O Czar criou o Grão-Ducado da Finlândia, um quase-estado com laços constitucionais com o império. Ele mudou a capital de Turku, perto de Estocolmo, para Helsínquia, mais perto de São Petersburgo. Depois que Czar caiu aos bolcheviques em 1917, a Finlândia declarou sua independência, lançando o país em guerra civil. Mais três guerras entre 1939 e 1945 – duas com os soviéticos, uma com a Alemanha – deixaram o país marcado por divisões amargas e uma dívida punitiva dos russos.
Em 63, o parlamento finlandês tomou a decisão que a educação seria a melhor forma de reverter o pesadelo econômico do país. O objetivo na época era de educar todos.Já nos anos 70, quando foi lançado o primeiro currículo nacional tinha 700 páginas, hoje existem apenas diretrizes e não regras ou normas nacionais. As mesmas podem ser aceitas ou recusadas por um conselho municipal independente.